quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A GRAÇA DO PERDÃO




A graça do perdão não é forçada;

Desce dos céus como uma chuva fina

Sobre o solo: abençoada duplamente,

Abençoa a quem dá e a quem recebe;

É mais forte que a força: ela guarnece

O monarca melhor que uma coroa;

O cetro mostra a força temporal,

Atributo de orgulho e majestade,

Onde assenta o temor devido aos reis;

Mas o perdão supera essa imponência:

É um atributo que pertence a Deus,

E o terreno poder se faz divino,

Quando a piedade curva-se à justiça.

(SHAKESPEARE – O MERCADOR DE VENEZA)


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O PERDÃO



O perdão humano é deveras difícil de ser concedido àqueles que nos prejudicam e magoam. Não devemos retribuir a injustiça por injustiça, nem fazer o mal a ninguém, independente do mal que tenhamos sofrido. A virtude de perdoar requer uma vontade firme de caminharmos rumo à renovação interior, buscando o homem novo que aguarda florescer em todos nós.

Somos impelidos pelo instinto a revidar qualquer ato de afronta ao nosso conceito de importância, respeitabilidade e imponência que acreditamos possuir. Nós acreditamos que somos merecedores de todas e quaisquer honrarias e manifestações de apreço. Entretanto, não agimos de forma tão cortês com o outro, quando somos prejudicados nos nossos mais simples atos e desejos pessoais, porquanto guardamos um alto conceito próprio, julgando a nossa imagem como a mais importante e que somos insubstituíveis nos ambientes que freqüentamos.

Grande ilusão. O egoísmo que nos envolve é a força que alimenta a nossa desdita imaginária frente a quem nos tenha ofendido. A Ofensa terá o tamanho e a importância que lhe concedermos. “O ódio e o rancor denotam uma alma sem elevação e sem grandeza; O esquecimento das ofensas é próprio da alma elevada, que está acima dos insultos que se lhe pode dirigir (E.S.E, p. 132)” . “O mérito do perdão é proporcional à gravidade do mal, não haveria nenhum (mérito) em relevar os erros de vossos irmãos, se eles não houvessem feito senão ofensas leves (E.S.E, p. 137).”

Shakespeare era um grande conhecedor da alma humana, de suas fraquezas e de seus males, e conhecia bem a força do perdão para a alma humana. Ele esclarece que “A graça do perdão não é forçada”, ou seja, deve vir de dentro da alma humana, como uma flor a desabrochar trazendo sua leveza e perfume a todos, igualitariamente.

“Abençoa a quem dá e a quem recebe.” Acreditamos que o maior beneficiado será aquele que conceder o perdão, pois retira de si toda causa de angústia e aflição que comprimiria sua alma, causando-lhe dor e sofrimento desnecessários.

“É mais forte que a força: ela guarnece o monarca melhor que uma coroa”. O perdão não retribui o uso da força com a força, como um atributo do orgulho ferido, “Mas o perdão supera essa imponência, É um atributo que pertence a Deus”. O perdão é uma força espiritual muito maior que qualquer força temporal e secular, com duração finita e limitada.

“E o terreno poder se faz divino, Quando, à piedade, curva-se à justiça.” Acreditamos que a Justiça Divina é responsável pela lei de causa e efeito, conduzindo-nos a receber conforme agirmos com o nosso próximo. Nós somos responsáveis pelo mal que realizarmos, sendo que conforme a lei de causa e efeito, seremos causadores de nosso próprio infortúnio, se trilharmos o caminho da ofensa e do revide; ou, podemos nos libertar das amarras do ódio e do sofrimento, se concedermos “A GRAÇA DO PERDÃO”.

Finalizando, podemos afirmar que Shakespeare era uma alma que sem adentrar as visões e posicionamentos religiosos, pregava a doutrina do Homem Integral, que se encontra envolvido pela força do Kosmos.

Cristiano Cândido

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1 – Kosmos: do grego antigo κόσμος, kósmos, "ordem", "organização","beleza","harmonia") é um termo que designa o universo em seu conjunto, toda a estrutura universal em sua totalidade, desde o microcosmo ao macrocosmo. O cosmo é a totalidade de todas as coisas deste Universo ordenado, desde as estrelas, até as partículas subatômicas. Pode ser estudado na Cosmologia. O astrônomo Carl Sagan define o termo cosmos como sendo "tudo o que já foi, tudo o que é e tudo que será. (wikipedia)

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