sábado, 18 de fevereiro de 2012

Evangelho e caridade



Antes de Jesus, a caridade é desconhecida.

Os monumentos das civilizações antigas não se reportam à divina virtude.
Os destroços do palácio de Nabucodonosor, no solo em que ser erguia a grandeza de Babilônica, falam simplesmente de fausto e poder que os séculos consumiram.
Nas lembranças do Egito glorioso, as Pirâmides não se referem à compaixão.
Os famosos hipogeus de Persépolis são atestados de orgulho racial.
As muralhas da China traduzem a preocupação de defesa.
Nos velhos santuários da Índia, o Todo-Poderoso é venerado por milhões de fiéis, indiscutivelmente sinceros, mas deliberadamente afastados dos semelhantes, nascidos na condição de párias desprezíveis.
A acrópole de Atenas, com as suas colunas respeitáveis, é louvor à inteligência.
O coliseu de Vespasiano, em Roma, é monumento levantado ao triunfo bélico, para as expansões da alegria popular.
Por milênios numerosos, o homem admitiu a hegemonia dos mais fortes e consagrou-a através da arte e da cultura que era suscetível de criar e desenvolver.
Com Jesus, porém, a paisagem social experimenta decisivas alterações.
O Mestre não se limita a ensinar o bem. Desce ao convívio com a multidão e materializa-o com o próprio esforço.
Cura os doentes na via pública, sem cerimoniais, e ajuda a milhares de ouvintes, amparando-os na solução dos mais complicados problemas de natureza moral, sem valer-se das etiquetas do culto externo.
Lega aos discípulos a parábola do bem samaritano, que exalta a missão sublime da caridade para sempre.
A história é simples e expressiva.
Transmite Lucas a palavra do Celeste Orientador, explicando que “descia um homem de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que o despojaram, espancando-o e deixando-o semimorto. Ocasionalmente, passava pelo mesmo caminho um sacerdote e, vendo-o, passou de largo. E, de igual modo, também um levita, abordando o mesmo lugar e observando-o, passou a distância. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, reparando-o, moveu-se de íntima piedade. Abeirando-se do infortunado, aliviou-lhe as feridas e, colocando-o sobre sua cavalgadura, cuidadosamente asilou-o numa estalagem”.
Vemos, dentro da narrativa, que o Senhor situa no necessitado simplesmente “um homem”.
Não lhe identifica a raça, a cor, a posição social ou os pontos de vista.
Nele, enxerga a Humanidade sofredora, carecente de auxílio das criaturas que acendam a luz da caridade, acima de todos os preconceitos de classe ou de religião.
Desde aí, novo movimento de solidariedade humana surge na Terra.
No curso do tempo, dispersam-se os apóstolos, ensinando, em variadas regiões do mundo, que “mais vale dar que receber”.
E, inspirados na lição do Senhor, os vanguardeiros do bem substituem os vales da imundície pelos hospitais confortáveis; combatem vícios multimilenários, com orfanatos e creches; instalam escolas, onde a cultura jazia confiada aos escravos; criam institutos de socorro e previdência, onde a sociedade mantinha a mendicância para os mais fracos. E a caridade, como gênio cristão na Terra, continua crescendo com os séculos, através da bondade de um Francisco de Assis, da dedicação de um Vicente de Paulo, da benemerência de um Rockfeller ou da fraternidade do companheiro anônimo da via pública, salientando, valorosa e sublime, que o Espírito do Cristo prossegue agindo conosco e por nós.

(Livro “Roteiro”, psicografado por Francisco Cândido Xavier)

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